Bhante Punnaji - Sila - Boa Conduta

Palestra (7 partes):


Bhante Punnaji explica a importância de Sila, ou Boa Conduta no Budismo.

Transcrição:

Bhante Punnaji - Sila - Boa Conduta

Namo Tassa Bhagavato Arahato Sammasambuddhasa

Parte 1:

A última vez estávamos falando do primeiro passo para o tornar-se espiritualmente perfeito. Quando usamos a palavra 'espiritual' aí, a usamos, porque... não temos outra palavra, mas não nos referimos a nenhum 'espírito', isso é o importante. No pensamento Judeu-Cristão, ou Ocidental, há uma divisão... o mundo é dividido em espiritual e material, e quando usamos a palavra 'espiritual' nos referimos a essa divisão... mas essa divisão inclui também a 'alma' e 'deus'; mas isso não é o que tento dizer. Aqui, 'espiritual' é simplesmente o que podemos chamar o 'religioso', ou a evolução religiosa, poderíamos dizer... e é esta evolução o que leva à perfeição. Então, uma vez que tenhamos obtido 'Saddha' [Convicção], saddha assinalei que é este apreço por aquela meta,
ou apreço pela bondade, ou pela perfeição na bondade... Uma vez que começamos por meio desta "Orientação à Meta", o seguinte passo é TORNAR-SE bom. Então quando começamos a nos tornar bons, o que fazemos é que começamos a nos tornar bons em nossa conduta.
Boa conduta. Baseados em um sentido moral. Pensando em termos de 'bom' e 'mau'.

Agora, a moral, quando falamos da moral com frequência,
pensamos na moral de diferentes culturas. [Achamos que] a moral está condicionada pela cultura. Achamos que o que uma cultura chama 'moral' não é igual ao que outra cultura vê como conduta moral... Ser capaz de viver em concordância com a moral
de uma cultura em particular não é se tornar bom em realidade. Podemos falar da bondade de duas maneiras. Uma é falar da bondade de uma maneira chamada 'Autonomia',
ou 'Bondade Autonômica', e a outra é 'Heteronomia' ou 'Bondade Heteronômica', que quer dizer, que você se comporta da maneira
que outras pessoas pensam que é boa. E está tentando satisfazer a outros com sua conduta, mas, por dentro, em sua vida privada pode ser que seja mau. Esse tipo de bondade não é bondade real.

A bondade real deve vir de dentro. Então, devemos compreender o que queremos dizer com 'bom' e 'mau'. Esta 'bondade' começa com um entendimento do significado
da bondade e do valor da bondade. Então, entender o VALOR da bondade, é o que se chama 'Samma Ditthi' ["Visão Correta"], que eu traduzo como 'Perspectiva Harmoniosa'. A 'Perspectiva Harmoniosa' quer dizer que, é livre de conflito.


Traz consigo harmonia. Então, harmonia não só com a sociedade, mas também
harmonia com a realidade, e harmonia dentro de você, porque há uma parte de você mesmo,
usualmente chamada consciência moral', que entra em conflito com seus 'sentimentos' ou seus desejos...
ou com seus atos, sua conduta... Então, a harmonia dentro e fora, é a harmonia da qual falamos. E a 'harmonia fora' é principalmente remover o conflito com a sociedade, e o conflito com a realidade... então, quando queremos ser bons, devemos ter uma definição apropriada do que nos referimos como 'bom'... Então, quando pensamos em 'ser bom', a maneira Budista
é pensar na bondade como aquilo que conduz à felicidade, e no mal como aquilo que conduz à infelicidade... (continua)

Parte 2:

A ideia de bondade' e 'maldade' vem de nossa experiência... Temos três tipos de experiência: experiência agradável, experiência desagradável, e experiência neutra. A experiência agradável é o que chamamos 'bom', e a experiência desagradável é o que chamamos 'mau'. Então quando julgamos algo em termos de bondade e maldade, referimo-no, em realidade, ao que é agradável ou desagradável. Se alguém faz algo desagradável para mim, o tomarei como algo mau e direi que essa pessoa que fez isso, é má, também. Se alguém faz algo agradável para mim, o verei como algo bom e a pessoa também é vista como alguém bom.

Então, o 'bom' e o 'mau' vêm do prazer e da dor. Mas ao mesmo tempo, pode ter algo desagradável AGORA,
que levará a algo agradável no futuro. Então, temos de pensar não só em termos de presente imediato, mas, também temos de pensar nas conseqüências últimas... Por exemplo, se temos um problema com um dente, o dentista talvez
queira extrair o dente, o que pode ser desagradável de fazer... Mas em última instância leva a um estado confortável. Ou podemos ter uma doença, e o doutor pode dar-nos algo desagradável
para beber ou tomar, mas uma vez que o tomamos isto pode levar a algo agradável. Isto é pensar em termos das conseqüências... E o outro é, que o que é agradável para mim pode ser
desagradável para outra pessoa. Pode ser que seja agradável tomar a propriedade de outro,
de maneira que satisfaça a mim, mas será daninho ou prejudicial para a outra pessoa... Então, quando falamos do que é 'bom', temos de pensar
em todos estes aspectos. E o que é bom é o que em última análise é bom para todos, de maneira que pode ser aceito universalmente como 'bom'. Então o que pode ser aceito universalmente como 'bom', é bom para todos, não só para mim mesmo... Uma vez que compreendamos isto, vemos que toda conduta egoísta
(centrada no si-mesmo) é 'má'. Então o bom vem a ser a conduta altruísta (não-egoísta). E o egoísmo não é somente mau para outras pessoas,
mas é mau para nós mesmos. Pode conduzir a más conseqüências. Maltratar outra pessoa pode ser agradável para mim, mas pode ser desagradável para a outra pessoa.

Mas isso não terminará aí. Essa outra pessoa quererá se vingar de mim, e então, o resultado será mau para mim também. Não só para a outra pessoa. E pode levar a más conseqüências. Então, devemos olhar isto de maneira ampla, não de maneira estreita.

Quando fala do que é bom e mau, o Buda assinala três raízes do maligno: Avidez, Aversão, e Delusão. A 'Delusão' é em realidade confusão da mente. 'Avidez' é o desejo por algo, apego... desejo emocional. E 'Aversão' é uma repulsão emocional a algo. 'Avidez' é a atração emocional a algo. Ambas conduzem ao infortúnio, tanto para nós como para outros. O que chamo 'má conduta'... Existem 10 tipos de maus atos, chamados 'Akusala Karma'. 'Karma' é a 'conduta', e 'Akusala' é 'o mal'. São 3 tipos de conduta efetuadas fisicamente. 4 tipos de conduta efetuadas verbalmente. E 3 tipos de conduta mental.

Os 3 tipos de conduta física são: 1. Ferir ou Danificar a outros, de qualquer maneira. Isso é físico... o outro é 2. Tomar algo de outros, ao que outro esteja apegado ou que outro considera de sua propriedade. Que se apresenta em forma de Furto ou Roubo. Furto é quando tomas algo quando a outra pessoa não está presente. Roubo é quando tomas algo quando a outra pessoa está presente,
usando alguma arma...

Parte 3:

Em ambos os casos, estamos tomando o que pertence a outra pessoa e o que a outra pessoa não está disposta a nos dar. Mas quando a outra pessoa está disposta a nos dar algo e o tomamos isso não é furtar nem roubar... não é um mau ato... torna-se um mau ato quando a outra pessoa não está disposta a dar. O terceiro tipo de má conduta é do tipo sexual. 3. Você começa a ter relações sexuais com o par de outro, a esposa ou esposo de outra pessoa... alguém que 'pertence' a outro... É uma espécie de furto ou roubo, mas diferente porque é sexual... Pode ser que você não esteja tomando completamente, é temporário,
mas ainda é mau... Esses são os três atos maus do corpo. Da conduta física. Depois há 4 atos verbais: 1. Um é mentir. Falar o que é falso, o que não é verdade.. 2. O segundo é usar palavras duras, que possam ferir
os sentimentos de outro... esse é o segundo tipo de mau falar... 3. O terceiro é quando alguém lhe conta algo confidencialmente e depois você vai e conta aquilo a outras pessoas... Espalha rumores... pode chamar 'fofocas' ou talvez outra palavra... Esse é o terceiro tipo de fala que é mau. 4. E o quarto é simplesmente, usar qualquer tipo de linguagem
que seja desagradável... pode ser que use o que chamam linguagem antiparlamentar' [insultos] ou pode ser que comente a respeito da conduta de outras pessoas,
criticar pessoas, ou talvez falar de coisas que o incitem a fazer coisas más... quando você ouve alguém dizendo coisas em favor de coisas más... isso também é mau falar... Essas são as quatro formas de conduta verbal. Depois, há 3 atos mentais: 1. Um é o desejo pelas propriedades de outra pessoa. Ou pode vir em forma de 'apego' e 'inveja';
estas são duas coisas diferentes. 'apego' é ser relutante em dar algo a outra pessoa.

É relutar em compartilhar o que se tem com outros. 'Inveja' é em realidade o desejo de obter o que pertence a outro. Não lhe agrada ver a outras pessoas desfrutando.
Você quer desfrutar disso pessoalmente Em vez de deixar que outra pessoa desfrute. Isso é inveja'.

Isto é simplesmente desejo e apego. Os quais não são bons. 2. Ódio ou ira, é a outra conduta mental. Conduta irada.

A ira que conduz a todo tipo de crueldade... isso também não é bom... 3. E o terceiro tipo de conduta mental é apegar-se
ou aferrar-se a más perspectivas... Uma má perspectiva é a que leva à má conduta... Se tens uma perspectiva do tipo "todas as pessoas ricas devem morrer", isso é uma má perspectiva, que pode levar a má conduta... É por isso que às vezes digo que falar de direitos', 'direitos humanos', pode ser visto como algo bom, mas também pode ser visto como algo mau... porque leva a disputas... Mas uma maneira melhor poderia ser pensar em termos de 'deveres', se alguém efetua seus deveres apropriadamente... É por isso que o Buda falou de deveres' como... (continua)

Parte 4:

...como os deveres dos filhos para com os pais, e os deveres dos pais para com os filhos, os deveres dos professores para com os alunos, e os deveres dos alunos para com os professores, os deveres dos maridos para com as esposas, e os deveres das esposas para com os maridos, os deveres das pessoas para com os amigos, e os deveres dos amigos para com a pessoa. E assim, os deveres dos empregadores para com os empregados, e os deveres dos empregados para com os empregadores, Então, o Buda falou de deveres em vez de direitos. Se começas a falar em termos de direitos, isso pode levar a brigas, disputas. Se a esposa começa a falar de 'meus direitos', e o marido começa a falar de 'meus direitos' então o marido e sua esposa começarão a brigar... Mas se em vez de falar de direitos, falamos de deveres. O marido pensa em termos de deveres para com sua esposa; e a esposa pensa em termos de deveres para com seu marido, então não haverá brigas. Esta é uma maneira diferente de ver o mesmo problema. É por isto que as perspectivas podem levar a discussões e brigas.

As más perspectivas são perspectivas que conduzem à má conduta. Podem conduzir ao crime, e podem conduzir a guerras! E as boas perspectivas são perspectivas que conduzem à boa conduta. Isto completa a terceira conduta mental. Todas, fazem dez condutas que são más. E as opostas a elas
são as boas condutas. Para o Budista existe o que se chama 'Os Cinco Preceitos', e os cinco preceitos é uma forma resumida destas dez boas condutas, que são, evitar as más condutas... A boa conduta é principalmente evitar a má conduta. Mas há ademais boa conduta em termos de fazer o bem a outros; Compartilhar o que se tem com outros. Ao compartilhar o que se tem, pode ser o compartilhar suas propriedades, como, talvez, seu alimento, sua vestimenta, seu refúgio, seu remédio, ou o que seja lá o que possa compartilhar com outros. Mas, além disso, pode compartilhar sua energia, seu tempo, seu conhecimento... pode compartilhar com outros... O que seja que possas compartilhar e fazer pelo bem de outros,
isso também é boa conduta. Essa parte chama-se 'Dana', 'Dar'. 'Dana' é DAR. E abster-se da má conduta, chama-se 'Sila'. Então, Sila é mais um NÃO FAZER coisas más.

Enquanto Dana é um FAZER, em positivo, fazer coisas por outros. Dana. Isto é 'Boa Conduta'. Agora, um problema novo surge. Ainda quando saibamos o que é bom e mau, Somos em realidade capazes de conduzir-nos de maneira correta? Isto é algo muito importante de compreender.

Somos de fato capazes de nos comportarmos da maneira correta? Podemos escolher? Há uma opção? Podemos de fato escolher? Existe o que chamamos Força de Vontade? Temos uma Força de Vontade? A maioria das pessoas que sabe que é bom e mau, correto e incorreto, e aceita esses princípios, bons princípios, mesmo assim, quando estão excitadas, e se deixam levar por suas paixões, seus desejos, fazem coisas más. E quando se deixam levar pela ira, ou pelo medo, fazem coisas más. Ferem pessoas. Roubam. Cometem adultério.

Falam mentiras, falsidades,
usam fala mesquinha, espalham rumores, boatos, começam a usar todo tipo de más palavras
ou linguagem... Por que? Isto é porque, ainda que os seres humanos possam escolher seus atos até certo ponto, não podem fazê-lo completamente... Em outras palavras, não temos um Poder, uma Força de Vontade real. Não nascemos com um Poder de Vontade. Esse é o problema. Deixamos-nos levar pelas emoções a maior parte do tempo, só às vezes podemos fazer o que é correto...

Parte 5:

...quando há outras forças, que às vezes nos ajudam... como forças que vêm da sociedade. Quando estamos em presença de outras pessoas pode ser que
nos comportemos de maneira agradável, mas quando estamos em uma situação privada, quando não há ninguém ao redor pode ser que façamos coisas incorretas... Ou quando estamos muito chateados, ou temerosos, assustados, inclusive em público, pode ser que façamos coisas incorretas. Tudo isto é porque, o Poder de Vontade, ainda que o tenhamos
em certo grau, deve ser cultivado e desenvolvido... Sem cultivar e desenvolver o Poder de Vontade não podemos realmente praticar Sila apropriadamente. Há muitos Budistas, em países Budistas que recitam os cinco preceitos, mas na vida ordinária não praticam os cinco preceitos. Pode ser que respeitem os cinco preceitos, pode ser que digam que isto é boa conduta, pode ser que inclusive, uma mãe ou um pai ensinem a seus filhos
os cinco preceitos... mas, mesmo assim, pode ser que a mãe e o pai rompam estes preceitos. E os filhos também começam a romper estes preceitos. Ainda que pensem que estes são bons preceitos... Este é o problema. O Poder de Vontade não é algo com que nascemos. E o que está ocorrendo realmente é, que inclusive
nossos pensamentos e nossa conduta estão determinados pela presença das condições necessárias. Isto é o importante a compreender. Isso é o que Sigmund Freud chamou 'Determinismo Psíquico'.

O determinismo não só se encontra fora, no meio, o determinismo encontra-se também dentro de nós, em nosso interior; inclusive nossa mente, nossos atos, estão determinados pela presença
das condições necessárias. Então, inclusive para atuar de maneira correta, as condições
necessárias devem estar presentes. Isto é muito importante de compreender se queremos nos tornar
bons e atingir esse estado de perfeição, ao que aspiramos chegar... isso é o importante de compreender. Por isso é muito importante começar pelo que se chama 'O Processo Supernormal Óctuplo'. Este é o método para adquirir esse Poder de Vontade, onde o Buda assinalou que para poder se conduzir apropriadamente um assunto muito importante é, primeiro compreender o que é bom
e o que é mau, e isso não é suficiente, pois devemos compreender o como ser bom. E então com esse entendimento, devemos compreender
a importância de ser bom, e devemos ter o ser bom como nossa meta. Então, isto depende de uma Orientação a uma Meta.

A importância da Orientação a uma Meta já foi enfatizada
por alguns psicólogos no passado, como Alfred Adler, e recentemente, por... ele não era em realidade um psicólogo, era um cirurgião.
Um cirurgião plástico. Maxwell Maltz, que escreveu um livro chamado Psico-Cibernética, onde assinala este mesmo princípio: A Orientação a uma Meta. E esta meta ademais, vem na forma de uma Auto-Imagem. Essa é outra coisa importante: vem em forma VISUAL.

A Meta é uma Imagem na mente. Todos temos uma imagem a respeito de nós mesmos. 'O que somos' em nossa mente. 'Sou isto'. Quando olho para alguém, o que vejo não é o que essa pessoa
vê em sua própria mente.

Esse é o assunto. Quando alguém me vê, essa pessoa me verá de certa maneira. Mas, como me vejo a mim mesmo é diferente, porque eu sei
não só o que vejo no espelho, mas também sei toda minha história desde minha infância, e meus pais, como se comportaram meus pais... todas essas coisas estão incluídas
em minha auto-imagem. Então, minha auto-imagem é muito diferente do que outras pessoas
vêem quando me vêem. E essa auto-imagem está aí para fazer-me atuar. Meus atos
estão baseados nessa auto-imagem.

Parte 6:

É por isso que é necessário MUDAR essa Auto-Imagem
se vou mudar minha conduta. Isto é o que Maxwell Maltz assinala. É muito importante. A história de Maxwell Maltz é longa, tentarei apresentá-la de forma breve. Ele descobriu que quando operava mulheres para embelezar seus rostos, viu que quando o rosto muda, a personalidade dessa pessoa muda,
o caráter muda... Ele não entendia por que, então começou a experimentar
de diversas maneiras. E uma vez descobriu que algumas mulheres, ainda após a operação
não mudavam. Então falou com estas pessoas, e disse "Achas que és bela?" e descobriu que elas não criam ser belas. Então começou a falar com elas e convencê-las de que eram belas, e uma vez que se convenciam, a personalidade mudava. Isto demonstra que era a Auto-Imagem a responsável por isto.

E depois quis experimentar mais. E então em um dia, quando uma mulher veio fazer uma cirurgia, lhe disse: "Não precisas de uma cirurgia, és muito bela, não tens por que operar
teu rosto" E no momento em que fazia isso, e em que ela se convencia, então, a personalidade mudava automaticamente... Então, tudo isto prova que a Auto-Imagem é muito importante nisto. E a Auto-Imagem é importante para mudar. E o Buda compreendia isto. É por isso que o Buda falou de algo
chamado 'Sakkaya Ditthi', 'Sakkaya Ditthi' podemos traduzir isso como 'Auto-Imagem'. 'Sakkaya' quer dizer 'o próprio corpo'.

Mas o 'corpo', 'sakkaya' o Buda define 'sakkaya' não só como
o próprio corpo físico, senão como todo o corpo... de sensações, emoções, pensamentos... todo isso está incluído no 'Sakkaya Ditthi'. Em outras palavras, toda a personalidade, o que você chama 'eu', toda essa personalidade deve mudar... E depois, quando toda essa personalidade muda, a pessoa muda. Então você deve remover seu 'Sakkaya Ditthi', e ademais 'Vicikiccha', que é quando você pensa que deveria ser assim,
mas é de outra maneira. Você verá, tem duas maneiras de pensar: 'deveria viver assim,
mas estou vivendo desta outra maneira', são duas coisas... E além do mais está o que se chama Silabbata-paramasa. Silabbata-paramasa é onde você se conduz bem só para satisfazer
a outras pessoas. Não se conduz bem realmente porque quer se conduzir assim, se comporta bem só para satisfazer a outros. Em outras palavras, pode ser que se conduza bem em público, mas em privado pode ser que se conduza de outra maneira. Isso é Silabbata-paramasa.

O importante é que esta mudança em nossa Auto-Imagem é importante. E para fazer isso, devemos olhar para 'o que queremos ser'. E o que queremos ser se torna o ideal de perfeição. E o que queremos ser, o Budista considera o Buda. Então, o Buda converte-se em nossa meta.

O Buda é a imagem do que queremos ser. E quanto mais pensemos em termos da imagem que queremos ser, gradualmente movemos-nos nessa direção. Então, há uma imagem do que somos, e uma imagem do que queremos ser. Quanto mais nos focamos no que queremos ser, e quanto mais
apreciamos isso, quanto mais valorizemos isso, mais nos dirigimos para isso. É por isso que a palavra 'worship' [veneração] pode ser entendida como uma combinação de duas partes: 'worth' e 'ship' O que isto quer dizer é que venerar é considerar algo
como sendo de grande valor [worth].

Considerar algo como sendo de grande valor é venerar. Então, venerar o Buda é valorizar o Buda. Ou o estado de perfeição. É por isto que quando um Budista se prostra em frente ao Buda,
ou oferece oferendas ao Buda, tudo isso é uma maneira de ...

Parte 7:

Tudo isso é uma maneira de exteriorizar este apreço pelo Buda. Assim como, uma pessoa que se apaixona pode começar
a dar presentes a essa pessoa. Um homem que se apaixona por uma mulher, pode dar presentes à mulher, trazer-lhe flores, ou diferentes oferendas, essa é uma maneira de expressar o apreço, que consideras algo como de grande valor... Este é o ponto de partida para atingir esse bom estado,
ou o estado de perfeição. Este primeiro passo é compreender o problema e a necessidade de ser bom, e depois dirigir sua atenção para isso como sua meta na vida...
uma re-orientação... E uma vez que tenha voltado sua mente para essa meta, então o passo seguinte é a fala correta, a ação correta, e a vida correta. Não é somente atos solitários levados a cabo às vezes, ocasionalmente, e sim que se torna a sua vida, toda sua vida se torna uma maneira
de se conduzir bem. E seu esforço, esforço constante, em termos do pensar, é pensar só bons pensamentos, e evitar os maus pensamentos. E à medida que segue fazendo isso, então sua atenção está focada
em sua mente o tempo todo. Essa é a 'Introversão da Atenção'.

E à medida que segue fazendo isso, sua mente se purifica gradualmente. E à medida que sua mente se purifica e se torna livre
de todas estas más emoções, sua mente se acalma, tranqüiliza-se. E nesse estado de tranquilidade, você começa a compreender sua experiência ainda melhor. Começa a compreender: 'Dukkha' ou 'sofrimento', Como surge, Como cessa, E a via que conduz a sua cessação. Em outras palavras, compreende o que se chama
'as Quatro Nobres Verdades'.

E isso é 'insight'. Mas o 'insight' ocorre só quando sua mente se purifica. E à medida que sua mente se purifica, sua mente torna-se calma
e tranquila. É essa mente tranquila a que se torna livre inclusive dessa
sensação de um si mesmo. E quando a mente se torna livre da sensação de um si mesmo,
ao menos temporariamente, quando você volta, agora sabe que o si mesmo é só um produto
de seu pensamento.

Não é algo real. E então se convence ainda mais de que essa é a verdade:
que não há si mesmo. Desta maneira, todo o 'Sakkaya Ditthi' ou a Auto-Imagem,
gradualmente começa a desaparecer. Só quando a Auto-Imagem desaparece completamente,
e você vê que não há si mesmo, então se torna completamente uma pessoa 'altruísta'
(Lit. 'sem-si mesmo') E esse é o estado de perfeição.

Então, não somos capazes de saltar direto a esse estado
de perfeição de uma só vez, instantaneamente, uma vez que é um processo gradual. E essa é a maneira de se tornar bom. E essa é a bondade que podemos pôr em prática.