Bhante Vimalaramsi - Praticando Meditação Budista


Palestra de Bhante Vimalaramsi sobre a prática de meditação.

Transcrição:

Bhante Vimalaramsi - Praticando Meditação Budista


Bem, parece que estão muito interessados na meditação. Isso é muito bom. Venho ensinando meditação por mais de 30 anos. Pratiquei meditação por 20 anos com o Venerável Mahasi Sayadaw, e U Pandita, e U Lakkhana, e U Janaka; muitos, muitos monges Birmaneses. Depois fui convidado a ir à Malásia e estar no maior mosteiro Theravada de lá. Era um mosteiro cingalês em Kuala Lumpur.

Enquanto estive ali pus-me a estudar os suttas, os discursos mesmos do Buda. E o que descobri foi que os suttas e o que tinham me ensinado desde os comentários não era a mesma coisa. E descobri também que a quase todos lhes ensinam meditação a partir dos comentários. E há um passo nos suttas que não é mencionadp nos comentários. E quando se suprime este passo, a sua meditação muda completamente. Estão praticando "atenção na respiração"? É essa a meditação que praticam preferencialmente aqui? Ok, lhes darei as instruções da "atenção na respiração" de acordo com o sutta, e verão que é um pouco diferente do que lhes foi ensinado.

Agora, há quatro frases que dão a instrução. Dizem: quando a inalação é longa, entende que é uma inalação longa; quando deixa a exalação longa, entende que é uma exalação longa; entende quando é uma inalação curta e quando é uma exalação curta. Agora, alguém me ouviu dizer: "nariz, ponta do nariz, lábio superior, ou abdômen"? Não, porque isso não está na instrução. Só diz que entende quando a respiração é longa, e quando é curta; entende quando a respiração é grande, e quando é pequena; entende quando a respiração é rápida e quando é lenta. Isso é tudo o que isto significa. Agora, a parte seguinte das instruções é onde se diz exatamente como treinar sua mente.

Nestas instruções, nunca, jamais se menciona área alguma onde observar a respiração, e não se assinala que tenha que focar só na respiração. Eu lhes mostrarei isso em um momento. A seguinte parte das instruções diz: "Ele treina assim"; "Ele" quer dizer qualquer que pratique. Experimenta o corpo inteiro na inalação; e experimenta o corpo inteiro na exalação. Isso quer dizer o corpo físico completo. Não quer dizer o "corpo-de-respiração" [uma interpretação dos comentários] Quer dizer o corpo físico.

Logo as instruções continuam e dizem, que 'ele' treina desta maneira: na inalação, tranquiliza a formação corporal, na exalação, tranquiliza a formação corporal. Agora, o que quer dizer isto? Na inalação, relaxa; Na exalação, relaxa. Este é o passo que os comentários deixam de fora, e explicarei a importância disto em um momento. A maneira pela qual se pratica meditação é que, a cada vez que a atenção da mente se move do respirar-e-relaxar a uma distração - seja um pensamento, seja uma sensação, seja um som - o que quer que seja que distraia a sua mente; toda vez que a atenção da mente se move, há uma tensão-e-contração que surge em sua cabeça e em sua mente. Essa tensão-e-contração é "Ânsia" ['tanha']. Assim é como você pode se dar conta de que surge "Ânsia".

Não é uma grande tensão-e-contração, e se não a "busca", não a verá. Nem sequer se dará conta de que está aí. É uma pequena contração que ocorre na cabeça mesma. Seu cérebro é assim [gesticula], e há uma membrana que envolve o cérebro... Como que mantém tudo unido. Toda vez que a atenção da mente se move, essa membrana se contrai um pouco. Na inalação relaxa; sente seu cérebro como "Ahhh". Como que se abre e depois se acalma. O que você fez então foi abandonar a Ânsia. Quando abandona a Ânsia - que é a causa do sofrimento - e a abandona - essa é a cessação do sofrimento.

Quando você solta essa tensão-e-contração - digamos que sua mente está distraída por um pensamento - você solta esse pensamento e relaxa imediatamente. Sente essa espécie de abertura e que se acalma, mas além disso nota que não há pensamentos nesse momento. Nota que a mente está muito esclarecida e clara nesse momento, e leva essa mente assim de volta a seu "objeto-de-meditação". Seu objeto-de-meditação é a respiração-e-relaxar. Não Se foca unicamente na respiração. Usa a respiração como o lembrete para soltar a Ânsia, soltar a tensão-e-contração.

Faz isso ao inalar, faz isso ao exalar. Há uma distração, solta essa distração, relaxa, agora sorri. Isto é algo que a maioria não pensa quando pratica meditação. Eu tenho frequentado muitos, muitos, muitos retiros de meditação. Fiz muita meditação. Fiz muita; provavelmente doze retiros de três meses; fiz um retiro de oito meses; fiz um retiro de dois anos...

De modo que, sei de retiros de meditação. Quando vou a um retiro e olho às pessoas, quase todas estão sentadas com cara muito amarga, e estão como que "trabalhando muito duro" e têm linhas profundas em seu rosto. E eu tenho uma tendência quando encontro alguém fazendo isso, vou e lhe dou um toque: "relaxe-se, não se ponha tão tenso." Na maioria das vezes isso é porque estão praticando uma forma de concentração absorta. Agora, qual é a diferença entre o que lhes acabo de sugerir que disse o Buda e a maneira que a maioria está praticando? Sua mente está em seu objeto-de-meditação - a respiração - a mente se distrai; quando está praticando tipos absortos de concentração, você solta a distração e imediatamente volta [ao objeto]. O que está fazendo? Como não relaxou essa tensão-e-contração, está levando a "Ânsia" de volta a seu objeto-de-meditação, e isso muda a meditação muito, não só um pouco.

O que lhes estou mostrando é: sua mente está em seu objeto-de-meditação, isso é o mesmo; há uma distração, isso é o mesmo; você solta a distração, isso é o mesmo; mas soma-lhe um passo extra; solta essa tensão-e-contração antes de voltar a seu objeto-de-meditação. Isso muda a meditação e não entra em concentração absorta quando faz isto. Eu pratiquei meditação Vipassana por 20 anos. Passei por todos os "Conhecimentos-de-Instrospecção" e não fiquei satisfeito com o resultado final. Nunca me ensinaram o relaxar a tensão-e-contração.

Na meditação Vipassana lhe dizem: "Quando você tem uma dor... - digamos que tenha uma dor no joelho - dizem: "Ponha sua atenção justo no meio dessa dor e veja sua natureza real." A cada vez que fiz isso, notei que minha mente estava como rocha. Tão tensa e contraída, tão dura, porque é difícil pôr sua atenção no meio de uma dor e permanecer equilibrado, ficar em calma. Sua mente dói, e quanto mais põe sua atenção no meio dessa sensação, maior ela se torna. De modo que sua mente naturalmente faz isto [mostra um punho apertado]. Agora, quando ensino meditação, quando dou as instruções, dou instruções muito precisas quanto ao que fazer quando surge uma sensação em seu corpo.

Não importa se é vontade de tossir, ou é coceira, ou é calor, ou é vibração, ou é dor. Trate-as todas do mesmo modo. Quando sua atenção é arrancada da respiração-e-relaxamento, vai-se direto à sensação e a primeira coisa que notará é que começa a pensar a respeito de todas as razões pelas quais não quer isso: "Oxalá que pare. Vá embora e deixe-me tranquilo." Certo? Todo pensamento a respeito dessa sensação faz à sensação maior e mais intensa. De modo que, o primeiro que fazemos é, soltar o pensar nela.

Agora, como estava pensando, há um pouco de tensão-e-contração; Relaxe. Agora você nota que sua mente está aí mas não está pensando, mas ainda dói. E toda vez que surge uma sensação dolorosa, há um punho mental apertado em torno dessa dor que diz: "Não me agrada, quero que se vá." Agora, o Dhamma - o verdadeiro - é, quando surge uma dor, já está aí. Isso é o verdadeiro. Toda vez que tenta controlar "o verdadeiro", toda vez que tenta lutar com "o verdadeiro", toda vez que tenta fazer com que "o verdadeiro" seja como você quer que seja, essa é uma causa de sofrimento.

De modo que, o que fazemos? Bom, o verdadeiro é, que quando surge esta dor, está aí e está OK que esteja aí. Deve estar OK porque é o verdadeiro, está aí. De modo que você dá espaço a essa dor para que esteja aí. Agora você nota que há tensão-e-contração em sua cabeça e relaxa, e volta a seu objeto-de-meditação. Volta ao respirar-e-relaxar na inalação, "Uuuups, aí vai de novo!" Agora tem pensamentos a respeito, de modo que você solta os pensamentos e relaxa. Deixa estar aí essa sensação.

Isto é aprender a aceitar com carinho o momento presente sem tentar mudá-lo. É um passo muito importante. De modo que, relaxe, deixe que a sensação esteja aí, relaxe a tensão-e-contração provocada pelo movimento da atenção da mente, e traga de volta esta mente aclarada e pura à respiração. Agora, todo o assunto da meditação se trata de ensiná-lo como funciona a atenção da mente. Para isso é a meditação. E enquanto vai e vem da respiração a essa sensação, à medida que se familiariza mais com este processo, começa a se dar conta justo antes de que sua mente se tenha ido por completo à sensação, algo mais havia aí...

"Oh, olha isso!" E relaxa e solta e volta. A próxima vez, se dá conta disso novamente.. De modo que começa a soltar, justamente aí, em vez de deixar-se arrastar por sensações grandes e toscas a respeito desta sensação. À medida que você solta mais e mais, e deixa estar aí a essa sensação, já não há resistência ante essa sensação, há aceitação do fato de que ela está aí. E além disso, sua mente está começando a ganhar equilíbrio. Está começando a mudar sua perspectiva, sua visão dessa dor. No começo, quando vem a dor, e você tem todos esses pensamentos a respeito, e tensão em torno disso, está tomando esta sensação pessoalmente; "Isto é eu, isto é meu, isto é o que sou." À medida que começa a ver isto como UM PROCESSO, começa a mudar essa perspectiva a "Oh, é só esta sensação.

" Vêem a diferença? "Isto é eu, isto é meu, isto é quem sou" muda para "É só esta sensação" psss Deixe-a ser, relaxe nisso, deixe essa sensação ser sem tentar fazer nada para torná-la diferente. Agora você está aprendendo a aceitar carinhosamente o que quer que surja no momento presente. À medida que se familiariza mais e mais com como surge essa sensação, e como atua sua mente quando surge essa sensação, isto se torna uma das melhores lições que você pode ensinar a si mesmo. Uma das grandes coisas que o Buda ensinou - e esta é muito importante - é que tudo o que surge no momento presente: "Não é eu, não é meu, não pedi que viesse." Talvez se sente e pense: "sabe, não tive uma sensação triste por longo tempo. Acho que deveria estar triste agora.

"? Ninguém é tão louco para fazer isso! Vem porque as condições são as corretas para que surja. O que você faz com o que surge no momento presente dita o que ocorrerá no futuro. Se resiste ao que está ocorrendo no momento presente, se se põe a lutar contra, se tenta controlá-lo, pode esperar por mais e mais tristeza - ou seja qualfor a ordem do dia - agrandando-se e fortalecendo-se. Por que? Porque você o está tomando pessoalmente. Está dizendo: "Esta sensação e estes pensamentos são eu. São meus.

Isto é o que sou." Tem a opção de fazer isso, a qual é sua velha tendência habitual - seu velho padrão - ou vê-lo pelo que realmente é: deixando-a ser, relaxando nisso, voltando suavemente a seu objeto-de-meditação depois de sorrir. Agora, eu enfatizo muito o sorrir. Acho que é um aspecto muito importante da meditação. Fizeram um estudo na Universidade de Minnesota, acho que era, há anos anos atrás, e o estudo era a respeito dos cantos dos lábios. Quando os cantos dos lábios baixam, baixa também seu estado mental.

Quando os cantos dos lábios sobem, assim também seu estado mental. Quando sorri e seu estado mental sobe e se eleva, sua mente está bem mais alerta, sua mente está bem mais clara, sua atenção é bem mais rápida. De modo que, ao longo dos anos desenvolvi o que se chama um sistema mnemotécnico. Que é uma maneira de lembrar como fazer a meditação. Este sistema mnemotécnico é: 1) 'Dê-se conta' (Reconheça) quando sua mente se distraiu. 2) 'Solte' a distração.

(Releve) Como se solta a distração? Digamos que é um pensamento, deixe de pôr sua atenção no pensamento... Releve... 3) 'Relaxe' a tensão causada pelo movimento da atenção da mente. 4) Agora 'Ria-se'. 5) E 'Retorne' a seu objeto-de-meditação. 6) E 'Repita' o ficar em seu objeto-de-meditação o quanto possa lembrar de fazê-lo. Chamo isto de os 6 R's. [6 palavras em inglês que começam com R] Reconheça, Releve, Relaxe, Ria - isto ajuda a "levantar" sua mente um pouco - Retorne a seu objeto-de-meditação.

Quando você Ri um pouco e volta a seu objeto de meditação, sua mente está mais clara, mais alerta. De modo que será capaz de captar as distrações mais rápido. Depois Repita este processo. [quando surjam mais distrações] Permaneça-0cx em seu objeto-de-meditação por tempo tanto como possa. Agora, quando as pessoas praticam meditação, têm a ideia de que os "Obstáculos" são o inimigo e que temos que lutar contra eles, e que temos que afundá-los, e que temos que deter sua vinda. Os obstáculos são: a Avidez - a mente ávida, a mente do "quero isto"; a Aversão - a mente repulsiva, a mente do "não quero isto"; a Sonolência e Letargia; a Inquietude e Ansiedade; a Dúvida.

Agora, todos estes Obstáculos quando surgem, levarão sua atenção muito longe e você se envolverá em algum tipo de história a respeito disso; por que quer algo, por que não quer algo, como se aletarga sua mente, como sua mente se torna super inquieta. Todo pensamento distrativo é parte da inquietude. OK? Agora, o assunto com os obstáculos é que, cada vez que surge um obstáculo, surge a crença de que "Eu sou isso", que vem com isso. Aqui é onde estão armazenados seus aferramentos, em seus obstáculos. A maioria das pessoas que praticam meditação, têm a ideia de que tem que forçar o afastamento do obstáculo, derrubá-lo, dar-lhe uma surra, empurrá-lo, deter sua vinda. Mas aqui é onde está seu apego.

Se você "empurra" um obstáculo e detém sua vinda, o fará por pouco tempo e depois (ele) voltará mais forte. Por que? Porque o está alimentando com sua atenção e seu desejo de reprimí-lo. Os Obstáculos são seus melhores amigos; os obstáculos são seus mestres. Eu não sou um mestre - sou um guia - você ensina a si mesmo. Quando surge um obstáculo, você não luta com ele, não tenta controlá-lo. Deixem-me mostrar-lhes isto: há cinco "agregados" - khandas em Pali.

Estes constituem este processo mente/corpo: 1) Você tem um corpo físico - rupa. 2) Você tem sensação - vedana. Sensação não é emoção, sensação é sensação. É já, seja sensação agradável, ou sensação dolorosa, ou sensação nem agradável nem dolorosa. 3) Você Tem percepção - sañña. Percepção é o que dá nome aos diferentes objetos.

Olha isto e diz "papel". A parte de sua mente que disse "papel", isso é percepção. E nisso há memória também. 4) Você Tem pensamentos - sankhara. 5) E tem consciência - viññana. Quando surge uma sensação dolorosa, a primeira coisa que tratamos de fazer é afastar a sensação com o pensamento, mas as sensações são uma coisa e os pensamentos outra.

Nunca as duas hão de se encontrar. Quanto mais se pensa na sensação, maior e mais intensa ela se torna. Como nas instruções que eu estava lhes dando há um momento; quando surge uma dor a primeira coisa a se fazer é soltar os pensamentos. Se você não o faz, a dor se torna maior e mais intensa. Agora, nisto não importa que tipo de sensação é. Pode ser uma sensação de tristeza, pode ser uma sensação de qualquer tipo de emoção.

Surge a sensação e surgem os pensamentos a respeito da sensação. Os pensamentos são parte do aferramento [personalização; "upadana"] "Aferramento" é todos os seus conceitos, todas as suas ideias, toda a história de por que lhe agrada ou desagrada a sensação. Quanto mais pensa na sensação, maior ela se torna. De modo que, o que fazemos? Temos que deixar os pensamentos e relaxar. Deixe a sensação estar aí sem tentar mudá-la, Releve, Relaxe, Ria e Retorne ao objeto-de-meditação. Então, os cinco agregados podem ser afetados pelo aferramento ou não dependendo de sua atenção nesse momento.

E quando você começa a praticar desta maneira, notará que a princípio não vai ser muito bom em fazê-lo. Sempre que se tenta algo novo, não se vai ser bom de imediato, mas, à medida que persiste no relaxamento, começa a ver coisas a um nível mais e mais profundo, que nunca viu antes! Há pessoas às quais tenho ensinado meditação por longo tempo. Elas estiveram praticando todo tipo de meditações diferentes e quando vieram e começaram a praticar comigo e começaram a praticar do modo que ensino, sem dúvida alguma dizem que esta é a melhor meditação com a qual se encontraram. E é engraçado porque não é minha meditação, é a meditação do Buda. Todo o que fiz foi ler o que disse o Buda e disse, "quero tentar isso para ver se funciona", e vi que sim. Quando dou um retiro, faço questão de que todos sorriam porque isso levanta sua consciência, levanta sua mente; sua mente está bem mais facilmente atenta que quando começa a se afundar, de maneira que pode deixar isso com maior facilidade.

Quando dou o retiro, espero que as pessoas avancem em sua meditação rapidamente. Se em dois ou três dias você não avançou muito então falo com você e quero saber "o que está fazendo diferente das instruções?" Agora, a maneira que os comentários foram ensinados por estes dias é, dizem: "a prática de Jhana está aqui; a prática de Vipassana está aqui. Não pratique Jhana - não conduz a nibbana - só faça vipassana". Quando comecei a ver os suttas, comecei a notar algo muito peculiar. Quando se falava de vipassana, se falava de jhana no mesmo instante, na mesma frase. E quando você começa a ver os suttas, a palavra jhana aparece muitos, muitos milhares de vezes.

A palavra vipassana aparece muito pouco; cerca de cem vezes comparado a cerca de dez mil. De modo que, o que acham que ensinava o Buda? Deparei-me com outro sutta e dizia que vipassana e samatha - que significa tranquilidade, que quer dizer prática de jhana - estão unidas. É como se houvesse uma carreta de bois, e se há um boi, é muito difícil ir em linha reta. Precisa-se de dois, e é necessário que andem de igual forma de maneira que possam ir em linha reta. Se um deles tenta ir um pouco mais rápido que o outro, começam a ir em círculos. É o mesmo com vipassana e samatha, é necessário que sejam igualmente fortes.

Quando se acrescenta este passo extra de relaxar a tensão-e-contração, isso leva a vipassana diretamente à prática de jhana. Agora, o que é jhana? Jhana significa, um nível de entendimento. Não significa concentração absorta, não significa concentração, em absoluto; significa um nível de entendimento. Agora, voltemos aos obstáculos. Lembram-se deles? Surge um obstáculo. O que faz com isso? Deixa-o estar aí por si só.

[O obstáculo] leva sua atenção longe, veja-o, deixe-o ser, Relaxe, Ria, e Retorne a seu objeto-de-meditação. Mas a natureza dos obstáculos é que são fortes, de modo que sua mente se vê atraída de novo. Agora, à medida em que se familiariza com ser afastado de seu objeto-de-meditação e com deixá-lo ser e relaxar, rir, retornar a seu objeto-de-meditação... aí vai de novo. Não importa quantas vezes sua mente é distraída por um obstáculo. Lembre-se, esse obstáculo é seu assistente. Está-lhe mostrando onde está seu apego. Toda vez que você Relaxa está abandonando - por só um momento = está abandonando a crença de que "Eu sou esse obstáculo." Só por um momento, depois tem um instante de clareza, e leva esse instante de clareza de volta a seu objeto-de-meditação.

O obstáculo começa a tornar-se mais e mais débil, até que finalmente se desvanece. Agora, o que ocorre é que à medida que você se familiariza com que esse obstáculo leve a atenção da mente para longe - a atenção da mente não é que simplesmente pule de uma coisa à outra - é um processo; você começa a dar-se conta desse processo. Está ensinando a si mesmo como realmente funciona a atenção da mente. Está vendo - não sei se estão familiarizados com este termo - a Originação Dependente, conhecem-no? Ok, a Originação Dependente é real. Não é uma filosofia. Não é particularmente difícil de entender, uma vez que a aprenda.

Como surge algo? Para poder ver, tem que ter os olhos em bom funcionamento; deve se encontrar com a cor e a forma; então surge a consciência-visual. O encontro destas três coisas chama-se contato-visual. Com o contato-visual como condição, surge sensação-visual; a sensação-visual: agradável, dolorosa, nem agradável nem dolorosa. Com a sensação-visual como condição, surge a Ânsia. Ânsia é essa tensão-e-contração. Ânsia é essa parte da mente que diz "Me agrada.

Quero-o." ou "Não me agrada e não o quero." Este é o começo da identificação com essa imagem. Com a Ânsia como condição, surge aferramento. Aferramento é todos os seus pensamentos, todas as suas opiniões, todos os seus conceitos, todas as histórias a respeito de por que lhe agrada ou lhe desagrada essa imagem. E com o Aferramento como condição então surge sua tendência-habitual.

"Toda vez que que este tipo de sensação surge, sempre atua assim." Assim é a Originação Dependente. O obstáculo lhe está mostrando este processo muito, muito bem. À medida que se familiariza com a distração e como ocorre, vê que algo ocorre justo antes de que sua mente se deixe levar e entrar na história. De modo que você deixa ir aí e relaxa, e à medida que se familiariza mais com o deixar ir aí, nota que há algo justo antes disso. Está ensinando a si mesmo como realmente funciona a Originação Dependente.

É por isso que eu disse que um Jhana é um nível de seu entendimento. Por que? Porque após um tempo, quando já não alimenta esse obstáculo e não tenta controlá-lo, você o vê como algo mais a deixar ir e relaxar, e observa o processo. Esse obstáculo começa a perder força e torna-se mais débil, e mais débil, e mais débil, e depois já nem sequer surge. Agora, o que ocorre? Surge um sentido muito grande de alívio, "Ahhh". É como se alguém tirasse um montão de rochas de seu ombro. Justo depois desse alívio, você sente muito, muito forte alegria.

E a alegria é uma sensação muito feliz, e é uma sensação de excitação: "Oh, isto é realmente genial. Amo esta sensação quando vem. Por isto é que medito." Mas essa alegria é uma sensação tal como o obstáculo, e tal como uma dor é uma sensação. Permita a essa sensação estar aí, por agradável que seja, relaxe nisso, volte a seu objeto-de-meditação. Já voltará à alegria.

Se trata de dizer: "Ah, amo esta alegria. Quero esta alegria. Não quero que esta sensação se vá nunca mais." Essa é a forma mais rápida de fazer com que se vá. De modo que deixe essa sensação estar aí, e depois, quando se desvaneça, sentirá muito, muito forte tranquilidade. Sente: "Ah, simplesmente aprazível.

Genial." E começa a sentir-se muito cômodo em seu corpo, não surge dor alguma. Você se sente muito cômodo em sua mente, sem perturbação Muito, muito calmo e aprazível. E sua mente fica em seu objeto-de-meditação com muita facilidade. Pode ser que ainda haja algum pensamento distrativo, mas se surge um pensamento, você o verá muito rapidamente; o deixará ir muito fácil, relaxará, rirá, e retornará, sem esforço algum. Agora, acabo de descrever-lhes o que ocorre no primeiro jhana.

Este se chama um Jhana consciente. Continuará ouvindo as coisas - uma motocicleta passa pela rua, e você a ouve - mas isso não faz com que sua mente vacile, não faz com que sua mente se agite e vá para lá, e que depois se deixe envolver em pensar em "Por que não vou a outro lugar onde não me incomode?" Não terá isso. Simplesmente notará que há um som, e sabe que tipo de som é, mas está bem. Está começando a desenvolver este equilíbrio de mente. Agora, os obstáculos ocorrem onde estão seus apegos, de modo que você vai ter obstáculos surgindo... não só enquanto esteja sentado. E sim que isto está ocorrendo o tempo todo, não é assim? De quantas pessoas você ouve dizer algo e não gosta disso? O que é esse "não gosto"? O "não gostar" é o segundo obstáculo; "Não gosto" é aversão. E há Ânsia nisso, e depois há Aferramento nisso, e depois há tendência-habitual nisso. Mas à medida que vai profundo na meditação, à medida que se ensina como funciona realmente o obstáculo, começa a haver mais equilíbrio mental - não somente quando está sentado em meditação, mas "lá fora". Isto se chama desenvolvimento da personalidade. Assim é como você desenvolve sua personalidade de maneira que não tenha um montão de emoções negativas surgindo, já não tenha um montão de problemas, porque sua mente começa a obter equilíbrio, porque o obstáculo não o desaloja do equilíbrio.

Agora, novamente, a diferença entre as meditações - no tipo de meditação de absorção - a força da concentração empurra e afunda o obstáculo, enquanto você tenha boa concentração. Levanta-se, perde sua concentração, sai para sua vida diária, vem um obstáculo e o derruba. Realmente se irrita com alguém, realmente se incomoda, realmente se entristece, realmente se deprime, porque não aprendeu como funciona realmente a atenção da mente. A força da concentração pára suas lições. Enquanto está sentado nesse estado de concentração profunda, pode ser maravilhoso, pode ser muito aprazível, pode ser muito tranquilo. É grandioso, mas quando sai e perde essa concentração então alguém lhe dá uma cortada no trânsito e imediatamente você começa a gritar com ele.

Por que? Porque em verdade não observou realmente como surge o obstáculo ou como seu aferramento se agarrou a esse obstáculo e começa a se incomodar. Vejam, todo o assunto do ensinamento do Buda é aprender como funciona realmente a atenção da mente, e ver como a atenção... - quando começa a deixa ir e deixa de alimentar os obstáculos, e de alimentar as insatisfações, e de alimentar todas essas coisas - como quando deixa ir há felicidade, há esta espécie de profundo "Ahhh" Então, entra no primeiro jhana, experimenta todos estes estados maravilhosos - e está aí por um pequeno tempo - mas eventualmente sua atenção escorrega um pouco, e quando o faz, já não está no jhana, tem outro obstáculo com o qual trabalhar O obstáculo é o que se está ajudando a ir mais profundo, e mais profundo em sua meditação. Está-se mostrando coisas mais e mais sutis a respeito de como funciona realmente a mente. Veja, você só se foca na respiração, nunca aprenderá este tipo de lições porque sua mente torna-se absorta só na respiração. Mas quando põe esse passo extra de relaxar a tensão-e-contração, isso muda a meditação. E agora começa a ensinar a si mesmo - mais e mais - o como estar feliz. E isso era o que o Buda tentava ensinar, o tempo todo.

Tentava nos ensinar como podemos aprender a estar felizes, sem importar o que ocorra. Ok, estive falando por um longo tempo. Queria perguntar-lhes se há alguma pergunta que tenham com respeito ao que estava dizendo, ou algum comentário, qualquer coisa. Entendi que você disse que o que se entende é Paticca Samupada (Originação Dependente) no primeiro jhana? Sim. Em cada Jhana. Vai-se mais e mais ao sutil.

Quando eu praticava vipassana, a grande coisa que queriam que eu entendesse era que tudo é impermanente, tudo é sofrimento, tudo é não-si-mesmo. Quando comecei a ver a experiência que eles diziam ser nibbana, era ver impermanência, sofrimento ou não-si-mesmo três ou quatro vezes seguidas muito, muito rápido e depois tem um apagão. Quando você sai desse estado, então tem um re-visão de todos os conhecimentos-de-introspecção. Ok? Quando comecei a ver os suttas, só se fala de alcançar nibbana mediante o entendimento da Originação Dependente. De modo que, o resultado final não é o mesmo. Então, o entendimento que obtém por simplesmente somar este passo extra de relaxar, leva-o muitíssimo mais profundo em sua prática do que jamais pensou que poderia chegar.

Disse você que antes de relaxar, solta? Sim. E isso não implica relaxar... ? Não. Deve ser uma observação intencional das sutis contrações que ainda estão aí. Tem que relaxar essa tensão sutil, e deve ser intencional. Onde uma quantidade horrível de pessoas entram em problemas com a meditação com a respiração é, que dizem "Bom, estou tranquilo. Estou em paz", mas ainda têm essa tensão-e-contração que nem sequer se deram conta de que está aí. Deve ser um dar-se conta intencional e tem uma sensação definitiva de expansão quando deixa ir essa tensão em torno do cérebro, sente em seu cérebro como um "Ahhh".

Agora, este tipo de meditação tem mais "Oh, uaus!" dos que jamais pensou possíveis. Porque começa a entender como funciona isto, e diz "Oh uau! Nunca tinha visto isso antes. Isto é grandioso." Uma quantidade horrível de pessoas, pratica meditação por quinze anos, vinte anos, e se aborrece disso porque não sente que esteja progredindo. Isso nunca ocorre com este tipo de meditação que lhes estou mostrando. Tem tantas coisas novas que você está vendo o tempo todo que está esperando para ir sentar-se para poder ver mais, e realmente torna-se muito entretido.

Agora, isso é algo que aposto que não tinham ouvido antes, na mesma frase: meditação e entretenimento. Sei. Então, você mencionou que quando pratica meditação e tem uma sensação, não estamos tratando de, tratando de, ah... Não pare a sensação. Não pode. Só relaxe na sensação. Aceite com carinho o que quer que surja no momento presente. Ah, não estamos tratando de voltar à contemplação, o que ocorre se não se vai? Se irá? Uma vez, solte, relaxe, sorria, volte a seu objeto-de-meditação. Se ainda está aí, sua mente voltará a ela.

Isso quer dizer que há muito apego a ela, há muita identificação com ela. De modo que, faça-o de novo. Tem que desenvolver sua paciência nisto. Eventualmente quando finalmente deixa ir, terá um "Oh, uau." Terá um "Oh, talvez isso tenha sido bom?"